Capítulo 1: O Amanhecer Seguinte "Parte 2"

Lorna fechou o pequeno caderno que estava lendo e recostou-se na cadeira, suspirando alto. Ainda não podia acreditar no que tinha acabado de ler. Era a terceira vez que lia aquilo. As palavras naquele caderno não faziam sentido para ela, mas mesmo assim a preenchiam com… um sentimento estranho. Seria esperança? Talvez desespero? Claro, ela entendia as frases, afinal, estavam escritas em linguagem comum, mas não conseguia compreender o que realmente significavam. Bem, na verdade, o que significava era que sua vida talvez tenha sido uma mentira durante a maior parte das duas décadas desde que nasceu. Tudo o que ela sabia pode não ser verdade. A pior parte, aquela que deixava suas mãos suadas e seus joelhos fracos, era a possibilidade de que ela realmente não conhecia seus pais. O pensamento enviou uma dor aguda em seu estômago e ela torceu os lábios. Se não podia confiar no que sabia – o que pensava que sabia – sobre seus pais, como poderia confiar em qualquer outra coisa no mundo?!

Seus pensamentos foram trazidos de volta à realidade quando ouviu a batida na porta. Aproveitando a oportunidade para tirar aqueles pensamentos de sua mente, ela colocou o caderno de lado, cobrindo-o com uma folha de papel, para mantê-lo fora de vista. Ela se levantou e caminhou até a porta, alcançando-a bem a tempo de ouvir a segunda batida e uma voz vindo do outro lado.

Lorna, minha querida, você está aí? Tenho notícias para você, querida!

Sra. Landburry

A mulher pareceu assustada quando Lorna abriu a porta tão de repente depois que ela a chamou, mas então sorriu, vendo o rosto da garota.

Notícias? Boas notícias, pelo menos, Sra. Landburry?

Lorna Crawford

Lorna perguntou, tentando entrar no clima para a conversa com sua vizinha, Alda Landburry, uma mulher alguns anos acima da meia idade, esposa de um padeiro bem conhecido na região. Depois que os pais de Lorna desapareceram, a Sra. Landburry a ajudou a criar a menina da melhor maneira possível, fornecendo roupas e comida, e, acima de tudo, atenção e um ombro para chorar sempre que a jovem precisava. Ela não era uma segunda mãe, afinal, Lorna sempre foi bastante independente e se saiu bem sozinha, mas ela certamente era a coisa mais próxima de uma família que a garota tinha. E era profundamente grata por isso.

Mas certamente são boas notícias. Quando eu trouxe palavras ruins para você, minha querida?!

Sra Landburry

Sorrindo, Lorna convidou a Sra. Landburry a entrar, fechando a porta depois que a mulher adentrou a pequena casa de um quarto só. Lorna deu uma olhada na mesa, certificando-se de que o caderno estava escondido, e alcançou a cadeira, oferecendo o assento à sua convidada.

Água? Chá?

Lorna

Ela ofereceu, caminhando até a pia para pegar um copo.

Não, obrigada, querida. Eu não irei me demorar. Tenho biscoitos para assar antes que Jermy volte para casa.

Sra Landburry

A menina acenou com a cabeça, deixando o copo para trás enquanto voltava para perto da Sra. Landburry, sentando-se ao seu lado.

E então, me conte. Boas notícias, não é? Certamente cairiam bem agora, boas notícias…

Lorna

Desta vez, foi a mulher que sorriu e começou a dar sua mensagem.

Bem, na verdade, não é exatamente uma notícia, mais uma sugestão, na verdade. Você ouviu falar da nova taverna que abriu na Terceira Rua? Eles recentemente compraram pão do Jermy e mencionaram que estão contratando novos funcionários. Tem sido mais movimentado do que eles pensavam que seria, então eles precisam de mais garçons e cozinheiros, inclusive.

Sra. Landburry

Era claro para onde ela estava indo com isso, e Lorna entendeu sua boa vontade. Ela a deixou terminar antes de dizer qualquer coisa.

Pensei, por que não tentar conseguir um emprego lá, garota? O lugar é legal, as pessoas são gentis, e se não der certo, bem, você tentou.

Sra. Landburry

O dinheiro que seus pais deixaram para ela não era infinito, e Lorna sabia disso. Ela certamente não era gastadora, mas, por outro lado, precisava comer, pagar as contas e comprar e consertar coisas. Até agora, tudo bem, mas ela sabia que isso não seria assim para sempre.

Você não está errada, sabe, Sra. Landburry. Ter uma rotina pode até me fazer bem.

Lorna

Feliz com a resposta da garota, a Sra. Landburry continuou a expor sua opinião.

É uma ótima oportunidade de conhecer novas pessoas e talvez até desenvolver novas habilidades!

Sra. Landburry

Lorna riu de seu último comentário, imaginando-se equilibrando garrafas para servir uma bebida no balcão.

É, minha culinária precisa melhorar, hahaha.

Lorna

A Sra. Landburry riu, acenando levemente com a cabeça. Lorna continuou.

Vou ver isso, com certeza. Obrigada pelo conselho, Sra. Landburry. Foi realmente uma boa notícia.

Lorna

Com a mensagem entregue, a Sra. Landburry se levantou, satisfeita com a reação de Lorna, e pronta para voltar para casa. Parada na porta, ela agradeceu à garota por tê-la convidado.

Vou garantir que peça a Jermy para falar bem de você, Lorna. Boa sorte!

Sra. Landburry

Agradecendo à mulher por sua ajuda, Lorna fez uma leve reverência.

Obrigada por toda a ajuda, Sra. Landburry! Vou ter certeza de não desperdiçar essa oportunidade!

Lorna

E com a mulher indo embora, Lorna fechou a porta atrás dela e suspirou. Ela fechou os olhos e pensou em seu futuro.

Até agora, nos últimos anos, tudo o que ela fez foi estudar e se concentrar em uma outra habilidade útil. Ela leu dezenas de livros, praticou muito e tentou melhorar suas habilidades. Tudo isso se forçando para se libertar do luto por perder seus pais e tentar se ajustar a viver completamente sozinha a partir de agora.

O pensamento de ter um emprego agora era realmente agradável para ela – se não totalmente assustador. Ter pessoas dependendo dela – e ela dependendo dos outros – talvez fosse exatamente o que ela precisava para ‘voltar à sociedade’ depois de todo esse tempo.

Ela sorriu, pensando em todas as possibilidades. E então olhou para a mesa e suspirou novamente, um suspiro curto dessa vez. Seu sorriso desapareceu.